Após um acidente aéreo, 16 pessoas passaram 72 dias isoladas em montanhas geladas. Elas enfrentaram o frio, a sede e o drama de ter de comer a carne dos próprios companheiros mortos para sobreviver
Por Marina Motomura
No dia 13 de outubro de 1972, 45 pessoas embarcaram num avião da Força Aérea uruguaia rumo ao Chile. Um dos passageiros com lugar marcado acabou perdendo a hora. Foi um atraso milagroso... Ao sobrevoar a Cordilheira dos Andes, uma turbulência derrubou o avião sobre um verdadeiro mar de montanhas isoladas. Era o início de uma história dramática, que ganharia as páginas de livros e as telas do cinema.
Trezes passageiros morreram na hora do choque e mais três não resistiram à primeira noite na gelada cordilheira. Durante nove dias, os sobreviventes mantiveram a fé de que uma equipe de resgate viria tirá-los daquele inferno. Até que ouviram num rádio a notícia de que as buscas haviam sido encerradas. A partir dali, eles estavam por conta própria...
Vários sobreviventes não agüentaram os dias e as semanas seguintes e morreram — de frio, soterrados por avalanches, por complicações de ferimentos. Os que iam resistindo tinham como pior inimiga a sede. "Nossa urina já estava saindo toda vermelha, quando inventamos uma 'máquina' de derreter neve com o metal das poltronas do avião", afirma o uruguaio Ramón Sabella, um dos sobreviventes do acidente.
Se a falta de água foi superada com criatividade, para vencer a fome foi preciso tomar uma decisão radical e corajosa: se alimentar da carne dos companheiros mortos. "Nós passamos dez dias sem comer nada. A idéia de usar os cadáveres foi surgindo como um boato. No começo, alguns se recusaram, mas depois todos comeram. Era isso ou a morte", diz Álvaro Mangino, outro sobrevivente uruguaio ainda vivo, que garante nunca ter sido recriminado pela atitude.
O pesadelo nos Andes durou 72 dias e só terminou quando dois homens do grupo enfrentaram a pé as montanhas geladas. Eles conseguiram chegar a um povoado e acionar o resgate. De helicóptero, 16 pessoas foram salvas com vida.
Muitas delas ainda se encontram em Montevidéu, no Uruguai, onde vivem se reunindo para tomar umas cervejas e... fazer um churrasco.
Isso já fez 35 anos!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário